Diga: ele é Alla, o uno. Ele é o Indivíduo(no sentido mais seco – difícil traduzir a palavra). Não gerou nem foi gerado. Não existe unidade alguma semelhante à sua.
Em geral, as galerias de arte, os museus, teatros, academias, exposições, enfim, são originadas por algum motivo em comum entre as pessoas que organizam tais eventos, assim como entre as que frequentam, mesmo que tais motivos não sejam aparentes, ou mesmo conscientes. Na parte mercantilizada do mundo, que prevalece, emana e impõe-se mais, mas não é do Mundo, as pessoas, os sentimentos, a poesia, as emoções, a natureza, o Tempo(natural), são qualidades ou "entidades" não pertencentes ao estatuto do lucro, do valor, dos arranha-céus, do petróleo, do "progresso" ou da civilização que organiza-se a partir destes princípios.

Enxergando de dentro mas com um certo distanciamento crítico destes fenômenos, generalizando, no caso dos espaços das artes e para as artes, uma forte tensão é percebida pelos olhos que seguem as evidências. A lógica de mercado permeia - ou tenta permear - desde a origem do pensamento(o que o move) até as "conclusões" tiradas de uma experiência da arte, pois é esta a pretensão dessa lógica e, infelizmente, muitas vezes o resultado de sua difusão violenta pelos meios informativos. Existe mesmo um absolutismo mercadológico por trás dessas pretensões, um leviatã endiabrado, que tem nas duas mãos e em suas veias as armas e o dinheiro.

Essa tensão, enfim, gerada pela difusão a priori de um "sujeitante" - o valor das obras, deturpa o objeto artístico, a impressão, a interiorização e o sujeito real da experiência, que no fim das coisas é uma coisa só: a experiência artística, que não poderia ter em sua essência outra coisa senão o ser humano que sente, pensa, quer e julga segundo o seu desejo mais primordial. Na prática, a maioria do público das exposições de arte - de todas as naturezas - tem alguma preconcepção, preconceitos, limitantes da experiência. O custo de uma obra reflete a sua importância? A obra artística tem alguma importância, ou seja, a pretensão de servir para além da arte? A percepção das criações humanas - um conceito ampliado de arte - deve ser eternamente revolvida, revisada, para que as referências e os pré-conceitos não deturpem o acesso espiritual de determinada pessoa aos diversos objetos a criatividade humana dá forma. Se o Ser, a consciência e o pensamento não são abarcáveis, limitáveis, "encaixáveis" em qualquer coisa que seja, a arte e o sujeito-artístico também não o são, tanto o criador como o observador, ou melhor, experimentador; essencialmente, o mercado impõe suas "funções" como, respectivamente, produtor e consumidor.

para pessoas estranhas

Arrume algo pra fazer. Que valha a pena, é claro.
Ele descansava como quem saboreia o ledo aroma das orquídeas, suas tentações, suas consolações ao café que esfriou e ao sol desejado, e as nuvens pareciam ser sua única dúvida. E a chuva era o único segredo, contado às flores, e tentava tirar delas, mas só conseguia o silêncio. E sempre descansava, e sempre se cansava, no que parecia ser sempre o primeiro beijo à bela amada, parábola alada, que só aceitava os olhares, e se deliciava com os suspiros. Delicada dama, ao mesmo tempo que tão sucinta em suas vestes corolas. A esmo que ele só servisse para admirá-la, divino capricho, porque a odiava. A odiava justamente pelos seus segredos, guardados a sete chaves.

E não sonhava, e se cansava como um velho de suas doenças. E queria descansar. Mas não podia. Algo mantinha seus olhos abertos. Algo mantinha as flores em seu doce púlpito, aberto como os olhos, a janela ao correr das estradas de sóis, luas, nuvens e segredos. E lá continuava ela.

A insonia garantia sonhos que alimentavam a sabedoria de não se perguntar mais do que o pobre à flor. E eram sonhos só de respostas, e eram as dúvidas apenas o esquecimento. E o tempo o fez cego. Os olhos mortos agora não viam, eram a dor inata às flores, eram o torpor fadado aos homens. Os entorpecidos se tornaram felizes, às custas dos que beijaram a flor, e se tornaram elas, seus cúmplices e seus aprisionados. Eles abriram os olhos, beijaram a flor, abriram a janela, às vistas dos cegos, e ao correr nas estradas de sóis, luas, nuvens e segredos, se tornaram eles, e se perderam, para sempre.
Eu, tu, filhos da terra. E me pego na mais profunda reflexão, sobre sóis e geadas que me faltam. A minha infância cinza careceu de hipérboles e hematomas. Os portões só abriam caminho aos carros e cães maltrapilhos. A fantasia, minha única inseparável companheira, deu cores aos simples insetos que habitavam o nosso pequeno jardim, alegoria aos sonhos de uma criança que não queria saber os limites do real. Sou grato aos meus pais, que não enfiaram nenhuma merda em minha cabeça além das que uma cidade, podre vilã, proporcionava em noites terríveis, de sirenes e aviões, dos degenerados o perdão ao caótico ir-e-vir de aço e esperanças. Porque a cidade era linda. O marulhar da chuva ou o das poucas árvores se ocupavam de me acalentar, a alguém incrédulo atrás de um vidro embaçado, ou um gato, livre, a ulular lamentosamente à lua que fios e antenas não conseguiam esconder.

Cabe aos capazes unir deste mosaico as cores, a que tua infância tanto coloriram, em graciosa nostalgia às notas de um velho violino, ao misturar bucólico de histórias de uma pequena vila, perdida do mundo. E resta nos perdemos nele.
Esta linha de pensamento, infelizmente, reina quase que unanime nas cabeças de nossa contemporaneidade. "Para que estudar o passado se o importante é o presente?", "...o ‘aqui’ e o ‘agora’ parecem ocupar todas as atenções...". Isso ilustra os jovens cada vez mais imediatistas, de caráter cada vez mais apressado e que cada vez mais julgam o "velho" como descartável. O mundo não lhes pede mais paciência, oferece tudo à velocidades inimagináveis. E eles só esperam isso dele.

O mundo eletronizado só quer o rendimento preciso, sem erros, e, por consequência, sem diferentes considerações que poderiam levar a ele. Se quer o automático e que as cabeças que sustentam ele também sejam automáticas, instantâneas. O contrário disso traz divergências, polêmicas, sustentação ao erro, ao acerto, e opiniões diferentes, o que seria completamente insustentável pelos alicerces dos ditames que nos regem. Estes querem o acerto limitado, a conquista do objetivo que eles oferecem, apenas. Pois se isso não acontecer, algo perigoso à hegemonia pode nascer, e o ferir perigosamente. E isso só se dará quando as pessoas pensarem.

Pensar dá trabalho, e, sem isso, ler ou escrever não passa de fingimento. São apenas assessórios que podem ser substituídos pela capacidade pensante. O problema é que o ser humano esquece. E ler ou escrever, são, como tão importantes, assessórios a nós que sofremos com o tempo. E aí entra a história, o ensino dela e as reflexões subsequentes.

Há muitos anos, quantos vocês quiserem, surgiram coisas que mudaram o modo de viver. Coisas que revolucionaram pensamentos, refutaram paradigmas, criaram conceitos e preconceitos. Viu-se a necessidade de registrar esses momentos, seja por memória, documentos ou monumentos. E nem sempre as coisas foram lembradas de propósito. Isso alcançou todos os objetivos possíveis, desde a absorção daquilo que se conquistou até a lamentação perdurada aos póstumos. Na verdade, as intenções foram outras, mas a história mostra que essas foram as consequências. E tudo faz parte de uma gama entrelaçada de fatos e interpretações que levam a uma única palavra: identidade. E a história serve ao mesmo tempo como lembrança e amortecimento às dores do homem, formadoras à nossa identidade, berço das próximas gerações e do que elas entenderão como “o que nós somos”.

A questão da identidade é uma coisa séria. Tão perigosamente irresistível. Temos que ter cuidado com tudo aquilo que nos tenta a esquecer dela. Como por exemplo os historiadores mais conservadores, que tentaram a todo custo esconder as mazelas do nosso período ditatorial, ao que eles chamam de revolução. Ou os alemães, que de bom grado apagariam da história o holocausto. Ou os brasileiros, que se envergonham(ou pelo menos deveriam)da barbárie injusta que foi a guerra do Paraguai. E muitos inumeráveis episódios que ou poderiam ser esquecidos, relembrados, exaltados, ou atenuados à mercê dos caprichosos que se beneficiariam com isso, ou para a pior lamentação dos prejudicados. A identidade, como algo tão mutável e intrínseco ao homem, só poderá ser alcançada quando o exercício para ela for igualmente empregado sob todas as proporções. E ela nunca será alcançada, e, por isso, àqueles que acham que a encontraram, eu digo apenas que estes se conformaram, se estagnaram no curso da história, que só muda porque o homem também muda, num eterno revolver de ideias.

O ensinar da história só serve para nós não esquecermos de que somos capazes de mudar, sobre os erros e os acertos da história humana. Pois quando todos forem felizes, a história poderá se perder, porque o futuro vindouro não temerá mais aqueles que se dizem suficientes, ele já os terá. E isso poderá significar tanto a resolução quanto o pico de toda a podridão humana - ou a profunda conformação a tudo, ou o fim de todos os problemas, o que já seria a conformação, porque os problemas nunca terminarão. Quando terminarem, o ser humano também não existirá, e a história e tudo que é humano também.