Esta linha de pensamento, infelizmente, reina quase que unanime nas cabeças de nossa contemporaneidade. "Para que estudar o passado se o importante é o presente?", "...o ‘aqui’ e o ‘agora’ parecem ocupar todas as atenções...". Isso ilustra os jovens cada vez mais imediatistas, de caráter cada vez mais apressado e que cada vez mais julgam o "velho" como descartável. O mundo não lhes pede mais paciência, oferece tudo à velocidades inimagináveis. E eles só esperam isso dele.
O mundo eletronizado só quer o rendimento preciso, sem erros, e, por consequência, sem diferentes considerações que poderiam levar a ele. Se quer o automático e que as cabeças que sustentam ele também sejam automáticas, instantâneas. O contrário disso traz divergências, polêmicas, sustentação ao erro, ao acerto, e opiniões diferentes, o que seria completamente insustentável pelos alicerces dos ditames que nos regem. Estes querem o acerto limitado, a conquista do objetivo que eles oferecem, apenas. Pois se isso não acontecer, algo perigoso à hegemonia pode nascer, e o ferir perigosamente. E isso só se dará quando as pessoas pensarem.
Pensar dá trabalho, e, sem isso, ler ou escrever não passa de fingimento. São apenas assessórios que podem ser substituídos pela capacidade pensante. O problema é que o ser humano esquece. E ler ou escrever, são, como tão importantes, assessórios a nós que sofremos com o tempo. E aí entra a história, o ensino dela e as reflexões subsequentes.
Há muitos anos, quantos vocês quiserem, surgiram coisas que mudaram o modo de viver. Coisas que revolucionaram pensamentos, refutaram paradigmas, criaram conceitos e preconceitos. Viu-se a necessidade de registrar esses momentos, seja por memória, documentos ou monumentos. E nem sempre as coisas foram lembradas de propósito. Isso alcançou todos os objetivos possíveis, desde a absorção daquilo que se conquistou até a lamentação perdurada aos póstumos. Na verdade, as intenções foram outras, mas a história mostra que essas foram as consequências. E tudo faz parte de uma gama entrelaçada de fatos e interpretações que levam a uma única palavra: identidade. E a história serve ao mesmo tempo como lembrança e amortecimento às dores do homem, formadoras à nossa identidade, berço das próximas gerações e do que elas entenderão como “o que nós somos”.
A questão da identidade é uma coisa séria. Tão perigosamente irresistível. Temos que ter cuidado com tudo aquilo que nos tenta a esquecer dela. Como por exemplo os historiadores mais conservadores, que tentaram a todo custo esconder as mazelas do nosso período ditatorial, ao que eles chamam de revolução. Ou os alemães, que de bom grado apagariam da história o holocausto. Ou os brasileiros, que se envergonham(ou pelo menos deveriam)da barbárie injusta que foi a guerra do Paraguai. E muitos inumeráveis episódios que ou poderiam ser esquecidos, relembrados, exaltados, ou atenuados à mercê dos caprichosos que se beneficiariam com isso, ou para a pior lamentação dos prejudicados. A identidade, como algo tão mutável e intrínseco ao homem, só poderá ser alcançada quando o exercício para ela for igualmente empregado sob todas as proporções. E ela nunca será alcançada, e, por isso, àqueles que acham que a encontraram, eu digo apenas que estes se conformaram, se estagnaram no curso da história, que só muda porque o homem também muda, num eterno revolver de ideias.
O ensinar da história só serve para nós não esquecermos de que somos capazes de mudar, sobre os erros e os acertos da história humana. Pois quando todos forem felizes, a história poderá se perder, porque o futuro vindouro não temerá mais aqueles que se dizem suficientes, ele já os terá. E isso poderá significar tanto a resolução quanto o pico de toda a podridão humana - ou a profunda conformação a tudo, ou o fim de todos os problemas, o que já seria a conformação, porque os problemas nunca terminarão. Quando terminarem, o ser humano também não existirá, e a história e tudo que é humano também.